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Governança nas empresas: um longo caminho a ser percorrido

Atualizado: 8 de jul. de 2023

Histórico ou Contexto


Em 2000, o então secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan (1938-2018)

lançou o desafio de um Pacto Global, entre as grandes corporações, como

forma de chamar atenção para as responsabilidades coletivas do capital. Havia

urgência, ainda como hoje, de repor o que já tem sido bastante comprometido

pela ganância do lucro de curto prazo. Entendia, o então secretário-geral, que

era hora de trazer ou de criar alguns princípios que pudessem ser universais

para indicar a atuação corporativa em áreas ambientais, sociais e de

governança corporativa. Uma reinvenção moderna para o capitalismo que

passou a ser conhecido como capitalismo consciente e sem mexer na base – o

lucro - defende que quanto mais a empresa cuida – destas 3 áreas – mais ela

ganha.


Em 2005 foi publicado o relatório “ Who Cares Wins”  com o compromisso de apresentar indicativos de lucros com o direcionamento para o longo prazo para o retorno de investimentos dos acionistas das grandes corporações. A lógica base do relatório é que em um mundo globalizado, conectado, competitivo, o comprometimento com a gestão sustentável pode trazer lucros também sustentáveis.

E compromisso com a governança (ou gestão baseada em compromissos de

impactos sociais) passa a ser organizada em três áreas: ambiental, social e

corporativa.



Ambiental: mitigar impactos da empresa no meio ambiente. Por exemplo: uso

racional e eficiente dos recursos naturais, diminuição da emissão de gases, de

resíduos poluentes, etc.


Social: assumir governança efetiva em relação aos colaboradores, clientes,

comunidades envolventes.


Corporativa: sedimentar o objetivo no interesse dos acionistas no longo prazo.

Estratégias de funcionamento com foco no lucro, respeitando os dois pilares

anteriores. O ambiente corporativo équo, a prevenção aos atos ilegais,

transparência, inclusão e diversidade no conselho de administração, na gestão

e na direção, oferecem retornos de investimentos e de imagem.


Portanto, investir em Governança Ambiental, Social e Corporativa é

fundamental para os negócios, no médio e no longo prazo. No presente, abre

as portas para novos investimentos e fontes de financiamentos.




2023. Ainda um longo e desafiador caminho a seguir


A Governança Corporativa, no que tange à participação équo nos Conselhos

de Administração, interfere positivamente na consecução de avanços nos

demais pilares da agenda.


O Relatório de 2019 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), avaliou

13 mil empresas em 70 países e apontou uma tendência, que ainda está

desconectada da realidade.  57% entrevistados concordou que a diversidade

melhorou seus resultados financeiros e ajudou a atrair e reter talentos.  Já 54%

dos entrevistados viram aumentar a criatividade e a inovação, com a

participação de mulheres na cadeia de gestão. Se os dados confirmam, o que

ainda será preciso vencer para que as corporações assumam efetivamente a

equidade como objetivo?


Na Pesquisa de 2022 da Bloomberg, com 418 maiores empresas do planeta,

lê-se que 31% dos cargos de diretoria dos Conselhos de Administração são

assumidos por mulheres. Estas empresas, 83% delas, dizem ter por objetivo a

contratação de mulheres, nos próximos anos, como estratégia. De acordo, com

a OIT somente quando o mundo corporativo tiver no mínimo 30% dos cargos

de lideranças assumidos por mulheres começaremos a perceber os ventos da

mudança. Entretanto, 60% das empresas ainda não atingiram esta meta.


Uma notícia tímida e que merece reconhecimento: no Brasil, 13 empresas

fazem parte deste pequeno volume com a presença 39% de mulheres em

cargos de diretoria com salários compatíveis. Em Portugal, 8 empresas se

destacam. A realidade é mais desafiadora e o caminho parece não encurtar.


Não há como pensarmos em equidade nos altos postos de liderança sem

mexermos nas estruturas comportamentais e sociais comumente atribuídas ao

ser mulher. Ou alteram-se os mecanismos de exigências dos postos de

comando, adequando-os à realidade diferenciada. Homens e mulheres são

diferentes em quase tudo! Não pode haver regras lineares estabelecidas por

um único olhar. Respeitar as diferenças customizando necessidades e

entregas.


Me parece que talvez a mudança exija-nos dar um salto atrás e alterarmos a

mentalidade individual e coletiva.  Antes de tudo, é alteração de mindset. Que

começa com a consciência que não precisamos ser grandes corporações para

começar a agir. Como iniciar o processo? Quem sabe adequar a Governança

no nosso dia-a-dia, no nosso pequeno empreendimento, pequena, média ou

grande empresa. Alterar os paradigmas de milhões de anos não é simples, é

necessária!


No livro Sapiens – História breve da humanidade, o autor Yuval Noah Harari,

conta como nós chegamos até aqui, deuses, capazes de criar, destruir e

recriar. Este movimento de hoje de buscar o equilíbrio, que inicia com a

equidade de gênero nas decisões, é talvez o nosso novo momento de criarmos

algo em cima do caos.


 

Rijarda Aristóteles, Doutora em História e Presidente do Clube Mulheres de

Negócios de Portugal.

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