Por Regina Rapacci
Vamos direto ao ponto! Afinal, num mundo tão acelerado, não podemos perder tempo. Será mesmo assim? É preciso cuidado com as crenças que nos levam a cair em armadilhas. Quan- do atendemos às demandas externas e aderimos às tendências, sem questionarmos o que está por trás de cada uma delas, ao invés de adotarmos um ritmo natural que nos traga potência, aceleramos desenfreadas e afastamo-nos de nosso centro.
Ávidas por executar, sem prestar atenção ao que a vida nos pede, deixa- mo-nos iludir por uma visão simplista e moldamo-nos por condicionamentos massificados e mecanizados que resumem o ser humano a um animal inteligente. Tais técnicas até trazem resultados, mas estes não se sustentam se não levarem em conta a Essência Humana.
Nesta pressa exacerbada, o nosso passado é relegado às grutas sombrias do inconsciente. Mas, em qual- quer versão de mundo, frente aos avanços tecnológicos, a autoconsciência, a abertura para aprender continuamente e a determinação no agir, serão, juntos, diferenciais relevantes nos negócios. Tais capacidades vêm com a maturidade.
Não por mero acaso, na fase dos 40 anos, passamos por uma crise existencial. Podemos ter uma vida construída, uma família, um negócio estabelecido, um almejado cargo e até bolsas de grife ou carros de luxo. Ainda assim, somos apanhadas, no íntimo, a questionar-nos sobre o sentido de tudo, o que pode vir acompanhado de alguma angústia. Esta crise convida-nos a um viver mais pleno e “estratégico”, e muitas vezes leva-nos para as grutas do passado, onde há um tesouro a ser descoberto.
Ali, à luz das Leis Biográficas e dos Septénios – períodos de 7 anos, com os seus respetivos arquétipos – encontramos o Ouro da nossa Biografia.
Quem, de facto, eu sou? Surge a pergunta que coloca a nossa vida em movimento, de dentro para fora.
As Leis Biográficas
O pioneiro desta abordagem é o psiquiatra holandês Bernard Lievegoed. A partir de estudos fundamentados na obra do filósofo austríaco Rudolf Steiner, Lievegoed, em 1976, publicou o livro “Fases da Vida”. Gudrun Burkhard, médica e referência no assunto, sistematizou tais conteúdos, chegando a uma metodologia que resultou no surgimento de uma nova pro- fissão: o Aconselhamento Biográfico – modalidade que reconhece a nossa história desde o nascimento físico, o despertar de forças vegetativas e anímicas, que são alinhadas e orquestradas pela atuação do EU, a nossa auto- consciência.
Na década de 90, várias Formações Biográficas despontaram ao redor do mundo. Surge, então, o International Trainers Forum, um órgão de certi- ficação vinculado à General Anthro- posophical Section of the School of Spiritual Science do Goetheanum, em Dornach, na Suíça.
“...a autoconsciência, a abertura para aprender continuamente e a determinação no agir, serão, juntos, diferenciais relevantes nos negócios.”
As Leis Biográficas e os Septénios
Afinal, que Leis são estas? São Leis arquetípicas, inerentes ao Desenvolvimento Humano e que regem os septénios – conceito mencionado pela primeira vez na Grécia Antiga, no século V a.C., por Hipócrates, que se refere a um período de sete anos.
Os três primeiros septénios de vida, de 0 a 21 anos, abarcam a formação do nosso corpo físico, além do nosso temperamento e competências para interagir socialmente. As vivências ao longo deste período – traumáticas ou fortalecedoras – refletem-se pela vida fora e cabe a nós desenvolvermo-nos a partir desta base.
De 21 a 42 anos, segue-se um período de autoeducação e autoconhecimento, voltado para o nosso amadurecimento anímico, onde aprendemos a partir das nossas escolhas e atuação no mundo.
A partir dos 42 anos, entramos numa fase onde o tempo pode ser visto como um vilão ou um aliado, conforme o nosso processo de autodesenvolvimento. Neste caso, aos poucos, as nossas experiências transformam-se em sabedoria que disponibilizamos à sociedade, a partir de novos impulsos e encontros.
O Trabalho Biográfico
O processo de Aconselhamento Biográfico tem começo, meio e fim, e pode ser feito individualmente ou em grupo. Ele parte do momento atual do cliente, onde é feito um acolhimento das suas questões no presente. Depois, olha-se para o seu genograma e, só então, cada septénio é revisitado e narrado a partir de factos concretos. Em cada uma des- tas etapas, o cliente traduz a sua fala numa pintura em aquarela.
“Forma-se, então, um grande painel que representa o Caminho de Vida daquela pessoa.”
No final, o Aconselhador Biográfico devolve a história ao cliente, destacando pontos significativos da narrativa. Forma-se, então, um grande painel que representa o Caminho de Vida daquela pessoa. Ou seja, não se trata apenas de ordenar eventos, o que em si mesmo já é extremamente sanador pelas descobertas que o processo traz, mas de reconhecer a imagem que emerge e revela o “Fio Vermelho” que conduz aquela Biografia.
Avança-se, então, para o Espelhamento, onde a compreensão se aprofunda: os septénios são observados em diferentes perspetivas e o cliente pode perceber a sua evolução anímica, profissional e espiritual. Sim, o Trabalho Biográfico agrega ciência, arte e espiritualidade, esta no sentido de realização do ser.
A Mais Revolucionária Tecnologia: a Autoconsciência
Chega-se, finalmente, à coroação do processo, o momento onde, de volta ao presente, apoderado das descobertas do passado, o cliente “toma a vida nas próprias mãos” e olha para o futuro para definir os passos que almeja dar, considerando o que precisa ser desenvolvido e transformado, buscando o equilíbrio entre “o ter e o ser”.
Todo este processo de autoconhecimento pode ser vivenciado e também resultar numa nova carreira ou, simplesmente, agregar novos ângulos de visão aos profissionais ligados ao Desenvolvimento Humano, potencializando e diferenciando a sua atuação.
Vale a pena informar-se sobre a Escola Livre de Estudos Biográficos no seu país. A boa notícia, para quem vive em Portugal, é que ela iniciará as suas atividades por aqui no mês de setembro de 2022.
Enfim, seja qual for o seu Caminho, para viver bem no Presente, faça as perguntas certas ao Passado. Ele certa- mente lhe revelará o mapa do tesouro chamado Futuro. Por isso, toda a mu- lher, cada ser humano, merece passar pelo Trabalho Biográfico para a sua mais genuína, livre e vigorosa versão na vida.
Fica aqui o convite.
Por Regina Rapacci Aconselhadora Biográfica,
Escritora e Editora Administradora de Empresas e Especialista em Jornalismo Literário, facilita Workshops de Escrita, Storytelling e Contos para o Feminino. Em 2006, fundou a editora Biografias & Profecias. Embaixadora Master do Clube Mulheres de Negócios de Portugal, onde vive, é co-fundadora d’A Casa do Biográfico e sonha com o dia em que todas as mulheres se sintam em casa nas suas próprias biografias.
Texto original publicado na edição de setembro de 2022 da Revista "Mulheres de Negócios Magazine".
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