A dica hoje é um filme que se propõe a fazer uma reparação histórica, explicando a origem da lei norte-americana Emmett Till, aprovada em 2022 pelo presidente Joe Biden, que considera o linchamento um crime de ódio federal.
Dirigido pela nigeriana Chinonye Chukwu, Till - A Busca por Justiça (2022) conta a história real de Bo – Emmett Till – (Jalyn Hall), adolescente negro, morador de Chicago, que, com apenas 14 anos, foi linchado ao passar férias com os primos em Money, cidadezinha do Mississipi, em 1955.
Bo é um peixe fora d’agua naquele sul tão segregado, em que imperam as leis de Jim Crow. Ele não entende as regras rígidas do lugar, mesmo que tantas vezes tenha sido alertado pela mãe Mamie (uma extraordinária Danielle Deadwyler) de que a realidade do Sul era bem diferente daquela vivida no norte dos EUA. Entrando em um mercadinho, Bo é atendido pela Carolyn Bryant (Haley Bennett), mulher branca casada com o valentão Roy Bryant (Sean Michael Weber). O menino compra umas balinhas e “ousa" dizer que a moça parece uma atriz de cinema. E, para piorar tudo, ainda dá uma assoviada para mostrar seu encantamento. Mal sabia ele que seu destino estava sendo ali selado.
Uma história que nunca foi esclarecida como deveria ter sido e que nunca foi punida como tinha que ter sido. Uma história que, infelizmente, tantos anos depois, continua acontecendo em tantos lugares do mundo.
Filmado em formato panorâmico – antigo cinemascope –, Till é cheio de cenários bonitos, em que predominam as cores amarela e verde. Vestidos, cortinas, cadeiras, pias, cobertas e até o telefone que traz más notícias ganham essas cores ensolaradas. Cores fortes, paletas africanas, cores que não querem se esconder. Cenário também ocupado por muitos espelhos, imagens refletidas, imagens multiplicadas, imagens distorcidas, imagens de si mesmo, tentando se reconhecer, tentando entender o porquê de tantas injustiças.
Belos movimentos de câmera acompanham de perto os movimentos dos atores, da mesma maneira como algumas cenas importantes são filmadas em contra-plongée, engrandecendo o papel do ser filmado.
Um filme forte, que não nos poupa do sofrimento, nem das angústias, nem de sentir na pele a dor daquele mãe. Ao contrário, Chukwu opta por chocar, por agredir, por chacoalhar… para que os espectadores se sintam incomodados e impelidos a agir. Obrigados a se olhar no espelho e entender que há muito tempo isso não pode mais existir.
Disponível no Prime Video (Brasil, México), AppleTV, GooglePlay, YouTube (Portugal) e MGMplus (EUA).Um filme lindo, revoltante e triste. PRA PENSAR e PRA CHORAR.
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