Autora: Andrea Milhomem
Uma viagem com a família pode ser muito divertida. Viajar com amigos com os quais se têm afinidades é uma maravilha. Uma escapulida com o parceiro, em geral, é uma delícia. Mas, às vezes, não há como reunir a família, o parceiro não pode, os amigos estão sem grana ou têm outros compromissos. Então, o que fazer? Desistir daquela esperada viagem à Itália, pegar uma excursão ou partir para a aventura sozinho?
Sei que, para alguns, a ideia de viajar só deve ser meio assustadora, mas, depois da primeira vez, outras virão. Tenha certeza disso. Nem sempre se consegue companhia, e aquele preço maravilhoso de passagem não espera. Quem ainda não experimentou deveria tentar. O melhor é a sensação de que não se deixou de fazer algo por não ter companhia. E, com o tempo, você verá que, sim, tem uma companhia maravilhosa: a sua própria. Dará risadas e se emocionará como se estivesse com um grupo de amigos.
E não tem essa de que por ser mulher não se viaja só! Reconheço que, sim, mulher sozinha tem de ter mais cuidados. Mas basta escolher destinos que transmitam segurança, cidades onde se sinta livre para ir e vir, que se possa andar a qualquer hora, sem medo de nenhum tipo de violência. Riscos sempre existem, em qualquer lugar do mundo, mas há regiões e horários mais perigosos. Expor-se para quê?
Há bastante tempo viajo sozinha e gosto, por variadas razões. A mais importante é que amo viajar. Considero uma terapia e, dos meus hobbies, é o favorito. Sou das que se diverte olhando mapas. Fico pensando em aonde ainda não fui. Outro dia, li uma citação da escritora e ativista novaiorquina Susan Sontag (1933-2004) que dizia mais ou menos isso: “Eu ainda não estive em todos os lugares, mas está na minha lista”. Achei a minha cara.
Desde o momento em que escolho um destino, sinto-me mais alegre. Não importa se a viagem terá duração de uma hora ou de vinte. Ao chegar ao local, desfruto de cada segundo. Adoro a sensação da descoberta, de sentir-me meio perdida e, em seguida, dominando cada uma das ruas.
Além disso, quando se viaja só, pode-se controlar melhor a programação, os horários. Não é bom pensar que se tem o tempo que quiser num museu? Se gosta de acordar cedo, é animador se arrumar rapidamente e aproveitar o dia ao máximo, não é verdade? Ou se, ao contrário, é dos que dorme até mais tarde, colocar o relógio para despertar na hora em que bem entende é tudo de bom. Se gosta de andar, é só pegar um mapa e desbravar a cidade. Se não quer perder muito tempo caminhando, pega um ônibus de turismo. Se quer comer um sanduíche rapidamente, ninguém estará lá para reclamar. Se quer ir a um restaurante cinco estrelas Michelin, só tem de se preocupar com seu bolso. Você é um único responsável por suas escolhas. E isso é fantástico!
Viajar sozinho também ajuda a vencer as inseguranças. Eu, por exemplo, me sentia constrangida de ir a um restaurante sozinha. Hoje, peço mesa para uma pessoa, com muito orgulho. Se sinto vontade, peço cerveja ou vinho de acompanhamento. Não é porque estou só que tenho de ir a um fast food.
Outro aspecto positivo de quando se está só é se ver forçado a sair da zona de conforto. Na primeira vez em que aluguei um carro em uma cidade estranha, me senti muito realizada. Foi na Grécia. Eu estava em Náuplia e queria muito visitar Epidauro e Micenas. Não havia a possibilidade de excursão. A opção era alugar carro. Não digo que não pensei duas vezes porque pensei! Acho que até mais de duas! Mas venci a insegurança. Foi uma das sensações mais libertadoras da minha vida. Fui a todos os lugares que queria. Me senti a própria deusa Artêmis!
E sempre me faço entender, seja na França, seja no Japão, seja na China. Quando as pessoas notam seu esforço por se comunicar, elas também se desdobram para se fazer compreender. E, na pior das hipóteses, sempre resta a maravilhosa linguagem dos sinais. Isso aprendi com meu pai. Sem nenhum conhecimento de inglês, ele foi enviado a trabalho à Nova Zelândia. E se virou! Nunca me esquecerei de como ele conseguiu comprar um shampoo anticaspa em uma farmácia. Sem nenhum constrangimento, ele foi direto à atendente e, com gestos, coçou a cabeça e fez como se estivesse retirando as caspas do ombro… Simples assim.
Dizem que, quando se viaja sozinho, é mais fácil fazer amigos. Eu diria que é simplesmente mais fácil conhecer pessoas, mas isso depende muito da personalidade de cada um. Os mais extrovertidos, serão capazes de bater papo com quem estiver na fila do embarque. Já os introvertidos, optarão pela companhia de um bom livro. Acho que o que vale para qualquer um que queira socializar é se juntar a um tour pela cidade. Há vários gratuitos. Além de estar acompanhado, há sempre alguém com quem se sente afinidade e se pode conversar um pouquinho. Em uma ocasião, na Cracóvia, tive o prazer de conhecer duas brasileiras muito simpáticas, com as quais acabei indo almoçar.
Não é porque se está viajando sozinho que você precisa abandonar alguns hábitos. Chega a ser mais fácil mantê-los. Se gosta de ler até mais tarde, não tem de se preocupar por ficar com a luz acesa. Se medita, pode ficar na sua posição de lótus pelo tempo que quiser. Se é fumante, sua única preocupação é o seu pulmão. No meu caso, como gosto de correr, muitas vezes levo os tênis na mochila. É legal dar uma geral pela cidade correndo e, depois, voltar aos lugares que chamaram mais a atenção, andando, e pronta para tirar fotos.
Estar sozinho é bom até por motivos não tão glamorosos, como: se ronca, não vai incomodar ninguém. Também pode usar o banheiro sem constrangimentos. Só vantagens!
Uma cerveja no fim do dia para comemorar mais uma conquista é tudo de bom! Faça um brinde a si mesmo. Você fez por merecer. E até a próxima!
“PIOR QUE NÃO TERMINAR UMA VIAGEM É NUNCA PARTIR.” AMYR KLINK
Andréa Milhomem. Servidora pública do Ministério das Relações Exteriores, com pós-graduação em Gestão de Negócios em Turismo pela Universidade de Brasília. Expatriada brasileira que, atualmente, mora em Madri. Apaixonada por viajar, já esteve em cinquenta países e, em vários deles, sozinha.
Uma das melhores coisas da vida, VIAJAR!!! Amo muito e carrego muitas experiências maravilhosas na minha bagagem!
Bom dia. Amo viajar. Há mais de 10 anos viajo com um grupo de 10 mulheres e é maravilho. Planejo toda viagem e elas adoram. Só mulheres para rir e se divertir. Muito bom!